Lacan expandiu a teoria freudiana do Édipo, introduzindo conceitos como a ordem simbólica e o Nome-do-Pai. Para Lacan, o Édipo não é apenas um processo individual, mas um fenômeno social e linguístico. Ele argumentou que a entrada da criança na linguagem e na cultura é crucial para o desenvolvimento do complexo de Édipo.
Segundo Lacan, a criança inicialmente se identifica com a mãe e se sente completa e onipotente. No entanto, quando ela percebe a presença do pai, surge uma divisão subjetiva. O pai passa a representar a Lei, a autoridade simbólica que impõe limites e regras. Essa figura paterna, ou o "Nome-do-Pai", desempenha um papel central na estruturação do psiquismo da criança.
Ao contrário de Freud, Lacan não enfatizou tanto o aspecto sexual do complexo de Édipo. Para ele, o foco estava nas relações de poder, na busca pelo reconhecimento e na inserção da criança na ordem simbólica. O Édipo lacaniano é mais um processo de entrada no mundo da linguagem e da cultura do que uma resolução das pulsões sexuais.
Embora as teorias de Freud e Lacan sejam diferentes, elas compartilham algumas ideias centrais. Ambos concordam que o complexo de Édipo é um estágio crucial do desenvolvimento psicossexual e que a resolução desse complexo é essencial para a formação da identidade e do superego.
No entanto, as principais diferenças surgem na ênfase que cada teórico dá aos fatores sociais, culturais e linguísticos. Lacan ampliou o conceito de Édipo ao enfatizar a entrada da criança na ordem simbólica e a importância do pai como representante da Lei, enquanto Freud focou mais nas questões sexuais e na resolução das pulsões. Antes de falarmos mais sobre o Edipo em Lacan precisamos entender o processo anterior que marca a entrada da criança na linguagem.
O Processo de Alienação:
Para Lacan, o processo de alienação é fundamental na formação da identidade do sujeito. Ele descreve esse processo como a perda do sujeito em relação ao seu próprio desejo, quando ele se identifica com a imagem do outro, o "outro do espelho". Isso ocorre no estágio do espelho, que ocorre por volta dos 6 a 18 meses de idade, quando a criança percebe sua imagem refletida em um espelho e desenvolve uma identificação imaginária com essa imagem unificada e completa.
Essa identificação inicial com a imagem do outro é ilusória, pois o sujeito percebe uma unidade e uma totalidade que ele próprio não possui. Essa alienação primordial implica em uma perda, na medida em que o sujeito busca uma identificação com algo externo a si mesmo, perdendo de vista sua própria falta e incompletude.
O Processo de Separação:
Em contraste com a alienação, o processo de separação (que ocorre durante o Édipo) é a busca pela própria identidade do sujeito, pelo reconhecimento de sua falta e pela inserção na ordem simbólica. É a partir desse processo que o sujeito começa a se desvencilhar da identificação ilusória com o outro do espelho e busca sua singularidade.
O processo de separação envolve a entrada na linguagem e na cultura, através do acesso à função simbólica. A linguagem é o meio pelo qual o sujeito se constitui como sujeito falante, nomeando e simbolizando o mundo ao seu redor. É nesse processo que o sujeito se distancia da imagem do outro e passa a ocupar um lugar próprio, construindo sua identidade a partir de sua própria falta.
Importância e Interconexão dos Processos:
Tanto o processo de alienação quanto o processo de separação são fundamentais para o desenvolvimento psíquico e a formação do sujeito. A alienação inicial é uma etapa necessária para a constituição do eu, mas a separação é o movimento que permite ao sujeito se reconhecer como um ser distinto, com desejos e necessidades próprias.
Esses processos estão intimamente interconectados na teoria de Lacan. A alienação é um estágio inicial que prepara o terreno para a separação, na medida em que o sujeito se confronta com sua própria falta e busca uma identidade singular. Através da separação, o sujeito encontra sua voz e se torna capaz de estabelecer relações autênticas com os outros e com o mundo.
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