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O Amor na Perspectiva de Lacan: Entre Desejo, Idealização e Falta

Foto do escritor: Arthur AlexanderArthur Alexander


Na psicanálise lacaniana, o amor não é apenas um sentimento puro e transcendental, mas uma construção complexa que emerge do desejo, da idealização e, sobretudo, da falta. A frase “O amor, esse entrelaçamento de desejo e idealização, no qual projetamos no outro a esperança de curar nossas próprias feridas” reflete uma compreensão profunda do amor sob essa ótica.

Para Lacan, o desejo nunca é plenamente satisfeito, pois ele nasce da falta estrutural do sujeito. Desde a infância, o ser humano experimenta uma incompletude primordial, representada pela separação entre o bebê e a mãe – um momento crucial na formação do sujeito. Esse vazio nos acompanha ao longo da vida, levando-nos a buscar no outro algo que nos complete. No amor, essa busca se intensifica: idealizamos o ser amado, projetamos nele um poder curativo e acreditamos, muitas vezes de forma ilusória, que ele pode preencher aquilo que nos falta.

O amor lacaniano é, então, um equívoco necessário. Ele se estrutura na tentativa de encontrar no outro aquilo que nos falta, mas esse outro também é um sujeito desejante, também atravessado por sua própria falta. Assim, o amor se constrói como um jogo de espelhos, onde não amamos o outro em sua realidade plena, mas sim a imagem que dele criamos – uma imagem moldada por nossas idealizações e feridas inconscientes. Como Lacan afirma: "Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer".

Isso significa que o amor não é um simples ato de completude, mas sim um campo de trocas marcadas pela falta. Idealizamos o outro e o tornamos depositário de nossas esperanças de cura, mas essa expectativa pode ser frustrada quando percebemos que ninguém é capaz de suprir plenamente nossas lacunas internas.

Entender o amor sob essa perspectiva não significa negá-lo, mas sim reconhecê-lo como um fenômeno humano atravessado pelo desejo e pelo inconsciente. A psicanálise nos convida a amar não na ilusão da completude, mas na aceitação de que o outro é tão faltante quanto nós – e que o verdadeiro encontro amoroso acontece quando podemos amar sem a necessidade de nos salvar através do outro.

 
 
 

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© 2025 por Arthur Alexander Abrahão

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