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O Sujeito da psicanálise

Escrito por: Arthur A. Abrahão

Para podermos definir o sujeito da psicanálise, precisamos antes definir o sujeito da ciência e dele tratar de traçar um paralelo. Segundo Lacan a Psicanálise só pode vir a existir graça ao discurso da ciência moderna.  A noção de sujeito é a marca da ciência moderna na psicanálise.
    "Que é impensável, por exemplo, que a psicanálise como prática, que o inconsciente, o de Freud, como descoberta, houvessem tido lugar antes do nascimento da ciência, no século que se chamou do talento, o XVII- ciência, a ser tomada no sentido absoluto no instante indicado, sentido este que decerto não apaga  o que se instituíra antes sob esse mesmo nome, porém que, em vez de encontrar nisso seu arcaísmo, extrai dali seu próprio fio, de uma maneira que melhor mostra sua diferença de qualquer outro" (Lacan, 1966, p.871).

 


    Segundo Lacan, o conceito de sujeito da ciência advém da hipótese por ele sustentada de um sujeito constituído pela determinação científica. Esta hipótese implica em dizer que a ciência moderna determina um modo específico de constituição de sujeito.
    Foi com René Descartes que o sujeito emergiu em uma nova concepção. O “Cogito Ergo Sum” (Penso logo existo) foi usado como argumento por Descartes em sua obra “Meditações” na tentativa de fundamentar sua "Teoria do Conhecimento". O Cogito é resultado da experiência de Descartes que ao utilizar a dúvida como método, passa a questionar todas as idéias levantando questões e dúvidas até mesmo sobre sua própria existência. Em meio de tantas questões o cogito surge como uma certeza alcançada por Descartes“- só posso estar certo de que penso, pois mesmo que duvide, ainda assim, continuarei pensando”.
    O existir para Descarte tem como comprovação o ato de pensar, o cogito afirma que  o ser é capaz de duvidar, e propõem que para duvidar é preciso pensar. 
    Lacan toma o cogito como referencia para a definição de sujeito da ciência e também da psicanálise.  Sendo a linguagem fundamental para o pensamento, é o cogito que introduz o sujeito no simbólico Lacan sublinha esta importância e diz que é na vertente do simbólico que algo pode ter valor de existência para o ser falante. Para a psicanálise o simbólico é incompleto, porem é neste campo que o trabalho da analise vai debruçar-se sobre o que é da ordem do pensamento, fala e linguagem. Para Lacan no momento da dúvida Descartes sofre uma perda da imagem que o define como sujeito, vejamos, o sujeito se reconhece pelo saber, na certeza, porem é no momento da duvida que surge um outro saber antes não sabido. Nesse hiato entre a dúvida e o saber está o que Lacan chamou de sujeito do inconsciente. Lacan extrai do cogito, a noção da divisão subjetiva, em que o sujeito marcado por um saber surpreende-se com a aparição de um saber não sabido. Assim Lacan conclui que o sujeito é um sujeito dividido entre saber e verdade.
    Faz-se importante lembrar mesmo que exista a equivalência entre o sujeito da ciência e o sujeito da psicanálise estes não possuem a mesma operação. A ciência moderna deixa de fora o sujeito por ela gerado enquanto que a psicanálise trabalha com aquilo que a ciência despreza, a saber, o sujeito do inconsciente. O sujeito trabalhado na psicanálise esta dividido entre o saber e a verdade. Sendo o sujeito do inconsciente o portador da verdade.
    Lembrando Freud, podemos dizer que o “o ego não é o senhor da sua própria casa”. (Freud, 1917, p.178). O que significa que onde o Ego pensa saber, não sabe, uma vez em que é no inconsciente que habita a verdade do sujeito.  Assim Freud destrona o eu do lugar de unidade e saber como considerado por Descartes. No discurso do sujeito da psicanálise, a consciência e a razão são deixam de ser o lugar da verdade,  representando o lugar do engano. Por outro lado a subjetividade passa a ser uma realidade dividida entre os sistemas consciente e inconsciente.
    Lacan ao introduzir o sujeito do inconsciente no Cogito o reformula da seguinte forma: penso onde não sou, logo, sou onde não penso. Desta forma, aponta um Outro lugar para o pensamento, que não o eu. Na psicanálise o pensamento é o inconsciente, podemos então afirmar que o sujeito do pensar é o sujeito do inconsciente e concluímos que o sujeito da psicanálise é inconsciente e dividido entre saber e verdade. O saber é aquilo que o sujeito sabe de si, aquilo que ele pensa de si, a verdade é o inconsciente do sujeito. É aquilo que aparece na análise, aquilo que o sujeito desconhece. Desta forma temos um sujeito dividido.

Bibliografia
LACAN, J A ciência e a verdade (1966) In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
FREUD, S.Uma dificuldade no caminho da Psicanálise (1917), In: Obras Completas de Freud. vol. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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