Lacan e Nassim Nicholas Taleb
Escrito por: Arthur A. Abrahão
Jacques Lacan é um dos mais influentes teóricos da psicanálise, que propôs uma teoria sobre a relação entre linguagem e psique humana. Segundo Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem, e os símbolos são a forma pela qual o sujeito se relaciona com o mundo. Ele dividiu a linguagem em três registros: o simbólico, o real e o imaginário.
O registro simbólico é composto de palavras e símbolos que representam a realidade. Ele é introjetado pelo sujeito quando ele aprende a linguagem, que é uma estrutura social que molda a nossa experiência. O registro real, por sua vez, é a realidade em si, que é impossível de ser capturada pela linguagem. É uma dimensão da vida que está além da linguagem e do simbolismo. Já o registro imaginário é formado por imagens e representações mentais que são criadas pelo sujeito a partir do que ele percebe da realidade. Essas imagens são construídas por meio de fantasias e desejos, e são responsáveis por formar a identidade do sujeito.
Nassim Nicholas Taleb, por sua vez, é um escritor, filósofo e matemático que propôs a teoria do "cisne negro". Ele usa o termo para se referir a eventos imprevisíveis e raros que têm um grande impacto na vida humana, mas que são vistos como eventos normais. Ele argumenta que a maioria dos modelos e teorias que tentam prever o futuro são inúteis, pois não levam em conta a possibilidade de um cisne negro ocorrer.
A relação entre as teorias de Lacan e Taleb pode ser vista a partir da ideia de que o simbólico, o real e o imaginário são maneiras pelas quais o sujeito se relaciona com o mundo. Essas categorias são simbólicas e imaginárias, mas a realidade é uma dimensão que não pode ser totalmente capturada pela linguagem. Essa ideia é semelhante à teoria do cisne negro de Taleb, que argumenta que o futuro é imprevisível e que a realidade é complexa demais para ser completamente compreendida por modelos e teorias.
Taleb argumenta que a maioria dos eventos importantes na vida humana são imprevisíveis e que tentar prever o futuro é inútil. Ele argumenta que os modelos estatísticos e matemáticos são inúteis para prever o futuro, pois eles não levam em conta a possibilidade de eventos raros e imprevisíveis que têm um grande impacto na vida humana. Essa ideia é semelhante à teoria de Lacan, que argumenta que a realidade é uma dimensão além da linguagem e do simbolismo.
A interação entre a linguagem e a realidade. Como afirmou Lacan, "o inconsciente é estruturado como uma linguagem" (LACAN, 1966, p. 117), onde os símbolos são a forma pela qual o sujeito se relaciona com o mundo. Porém, segundo Taleb, a realidade é complexa demais para ser totalmente capturada pela linguagem e pelos modelos teóricos. Como ele argumenta: "A maioria dos eventos importantes é imprevisível, e o futuro é sempre incerto" (TALEB, 2007, p. 42).
Assim, enquanto Lacan propõe uma teoria sobre a estrutura da linguagem e como ela molda a nossa experiência, Taleb argumenta que a realidade é imprevisível e que as tentativas de prever o futuro são inúteis, pois não levam em conta a possibilidade de eventos raros e impactantes. Ambos concordam que a linguagem é uma estrutura social que molda a nossa experiência, mas divergem sobre a capacidade da linguagem e dos modelos teóricos de capturar a realidade de maneira completa.
Essa divergência entre as teorias pode ser vista como uma complementação, já que a teoria de Lacan enfatiza a importância da linguagem e dos símbolos na nossa relação com o mundo, enquanto a teoria do cisne negro de Taleb destaca a imprevisibilidade e a complexidade da realidade que estão além da capacidade da linguagem e dos modelos teóricos. Como afirmou Taleb, "Nós vivemos em um mundo que é complexo demais para nós. O cisne negro é um lembrete de que o futuro é incerto e que a história é cheia de eventos altamente improváveis" (TALEB, 2007, p. 231).
Assim, a relação entre as teorias de Lacan e Taleb pode ser vista como uma tentativa de compreender a relação entre a linguagem e a realidade, enfatizando a importância de reconhecer a complexidade e a imprevisibilidade da vida. Como afirmou Lacan, "a linguagem é um sistema simbólico que nos permite articular e organizar a nossa experiência, mas ela não pode capturar totalmente a realidade" (LACAN, 1966, p. 117).
A imprevisibilidade da teoria do cisne negro de Taleb e a ideia do Real de Lacan estão relacionadas na medida em que ambas apontam para a existência de algo que escapa à compreensão humana. O Real em Lacan é o que não pode ser simbolizado ou articulado pela linguagem, mas que afeta a nossa experiência de maneira profunda. Segundo Lacan, "o Real é algo que resiste à simbolização, algo que está além da linguagem e que escapa ao nosso controle" (LACAN, 1975, p. 11).
Da mesma forma, a teoria do cisne negro de Taleb destaca a presença de eventos raros e impactantes que não podem ser previstos ou modelados pelos métodos convencionais. Esses eventos são chamados de cisnes negros porque são raros, imprevisíveis e têm um grande impacto. Segundo Taleb, "os cisnes negros são eventos raros, imprevisíveis e altamente impactantes que desafiam as nossas expectativas e modelos teóricos" (TALEB, 2007, p. 17).
Podemos dizer que tanto a teoria do Real de Lacan quanto a teoria do cisne negro de Taleb apontam para a existência de algo que está além da capacidade humana de prever ou simbolizar completamente. Ambas as teorias destacam a importância de reconhecer a imprevisibilidade e a complexidade da vida e de estar preparado para lidar com eventos raros e imprevisíveis.
No entanto, a abordagem de cada autor é diferente: enquanto Lacan enfatiza a importância de reconhecer a presença do Real e sua influência em nossa experiência, Taleb propõe uma abordagem mais prática para lidar com eventos raros e imprevisíveis, através da adoção de estratégias de antifragilidade, que permitem que as pessoas e organizações se adaptem e cresçam com a incerteza e a imprevisibilidade.
A teoria do Real de Lacan e a teoria do cisne negro de Taleb abordam a impossibilidade de capturar completamente a realidade. Ambas as teorias apontam para a presença de algo que está além da capacidade humana de compreender ou prever completamente. Lacan afirma que "o Real é aquilo que escapa à simbolização, que está além da linguagem e que resiste a qualquer tentativa de representação" (LACAN, 1975, p. 11). Já Taleb destaca que "os eventos raros e imprevisíveis, como os cisnes negros, desafiam nossas expectativas e modelos teóricos, e não podemos prever ou controlá-los completamente" (TALEB, 2007, p. 17).
Essa impossibilidade de capturar completamente a realidade é fundamental para ambas as teorias, pois aponta para a necessidade de reconhecer a complexidade e a imprevisibilidade da vida. A teoria do Real de Lacan destaca a importância de reconhecer a presença do Real em nossa experiência, enquanto a teoria do cisne negro de Taleb enfatiza a importância de estar preparado para lidar com eventos raros e imprevisíveis.
Ambas as teorias destacam que a realidade é mais complexa do que nossa capacidade de compreender e controlar, e que precisamos estar abertos a essa complexidade e imprevisibilidade.
Bibliografia:
LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1975.
TALEB, Nassim Nicolau. O cisne negro: o impacto do altamente improvável. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 200