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Estádio do Espelho de Henri Wallon a Jacques Lacan

Escrito por; Arthur Alexander Abrahão 

Este Artigo se propõe a tecer algumas considerações sobre o Estádio do Espelho e sua importância no desenvolvimento humano.

 


    Wallon foi o primeiro a introduzir o conceito na época chamado por ele de “A prova do espelho”, Henri Wallon era filósofo, médico e psicólogo francês, foi em 1931, que Wallon descreveu a maneira como as crianças vão aos poucos diferenciando seu corpo da imagem que observa no espelho. Para Wallon, isto ocorre devido a uma compreensão simbólica, por parte da criança, em relação ao espaço imaginário em que constitui sua unidade corporal. Assim  “Prova do espelho” demonstraria, a passagem do especular para o imaginário e do imaginário para o simbólico.
    Roudinesco (1993) afirma que “Wallon aderira à idéia darwiniana segundo a qual a transformação de um indivíduo em sujeito passa pelos desfiladeiros de uma dialética natural. No quadro desta transformação, que para a criança consiste em resolver seus conflitos, a experiência dita do espelho é um rito de passagem que ocorre entre seis e oito meses de vida. Ela permite à criança reconhecer-se e unificar seu eu no espaço.”
    Foi em 1936 no XIV congresso internacional de psicanálise (IPA) em Marienbad que Lacan pela primeira vez apresentou o artigo “O Estádio do espelho como formadora da função do Eu (je)”, é importante lembrar que não existe versão original da conferencia pronunciada e que após quinze minutos Lacan foi interrompido por Ernest Jones que o desconhecia e achava que o mesmo tinha passado do tempo regular.  Se sentindo humilhado Lacan largou a conferencia e foi assistir as olimpíadas de Berlin na época manipulada pelo nazismo e não entregou seu texto para a publicação das atas do congresso. 
Em 1966 Lacan publica o texto em seus escritos, para Roudinesco (2006) “o estádio torna-se uma operação psíquica, ate mesmo ontológica, pela qual o ser humano é constituído numa identificação com seu semelhante”, para “Lacan a importância do estádio do espelho deve ser ligada à prematuração do nascimento atestada objetivamente pelo inacabamento anatômico do sistema primal e pela descoordenação motora dos primeiros anos de vida”.
    
 O estádio do espelho

O estádio do espelho essencialmente se dá a partir de uma experiência de identificação da criança, é através do estádio do espelho que a criança conquista de forma antecipada a imagem do seu corpo. Esta identificação leva a criança à estruturação de seu “eu”, terminando com a vivencia psíquica anterior chamada por Lacan de “fantasma do corpo esfacelado”.
    Antes do “estádio do espelho“ a criança não experiência seu corpo como algo unificado, mas sim como uma coisa dispersa.
“O estádio do espelho é um drama cujo o impulso interno se precipita da insuficiência para a antecipação e que fabrica para o sujeito, apanhado no engodo da identificação espacial, as fantasias que se sucedem desde uma imagem despedaçada do corpo até uma  forma de sua totalidade que chamaremos ortopédica - e para a armadura enfim assumida de uma identidade alienante, que marcará com sua estrutura rígida todo o seu desenvolvimento mental”.  (J. Lacan ,1998, p100)
    O estádio do espelho se organiza em três tempos fundamentais que possibilita a criança conquistar progressivamente a imagem de seu corpo.
    No primeiro momento a criança busca perceber a imagem de seu corpo como a de um ser real, do qual ela busca apreender, em outros termos, neste primeiro momento a criança passa por uma confusão entre si e o outro, onde Lacan afirma que é no outro em que a criança vivencia e se orienta no inicio, é neste primeiro momento que a criança evidencia o ajustamento de si no registro do imaginário.  
    No segundo momento a criança é surepticialmete levada a descobrir que o outro no espelho não é um outro real e sim uma imagem, desta forma a criança deixa de buscar se apoderar da imagem sendo capaz de distinguir a imagem do outro da realidade do outro. Fica explicito aqui que passa agora existir para a criança a imagem do outro (representação imagética) e por conseqüência leva a existência também da realidade do outro.
    É no terceiro momento quando a criança já sabe que o reflexo no espelho é uma imagem descobre que essa imagem é dela mesma. É neste terceiro tempo que a criança passa a experienciar seu corpo como algo unificado e total.  A criança entende que a imagem do seu corpo é a representação do seu corpo. A imagem do corpo é estruturante para a identidade da criança e é através desta imagem que o sujeito realizar sua identificação.
A conquista da identidade é sustentada pela dimensão imaginaria, e no fato da criança se identificar a partir de algo que não é ela mesma (seu reflexo no espelho), mas sim virtual.
    O reflexo no espelho não é ela mesma, mas sim o local onde ela se re-conhece, o que de fato é um reconhecimento imaginário. O estádio do espelho simboliza a pré-formação do “eu” (JE), é o inicio da alienação do sujeito no imaginário.

O estádio do espelho e a primeira fase do Édipo

     No seminário 4 Lacan  (1995)  afima que a experiencia da clínica “ permite situar os arredores do ponto em torno desse sexto mês que Freud destacou, e onde se produz o fenómeno do estádio do espelho..., no momento em que o sujeito captura a totalidade de seu corpo próprio em sua reflexão especular, onde ele se realiza de certa maneira neste outro total e se apresenta a si mesmo, o que ele experimenta é antes um sentimento de triunfo”.
    Mas este triunfo vem acompanhado de uma derrota ainda nas palavras de Lacan (1995) “ Existe, por outro lado, o encontro com a realidade do mestre. Na medida em que a forma do domínio é dada ao sujeito sob a forma de uma totalidade a ele mesmo alienada, mas estreitamente ligada a ele e na sua depen¬dência, isso é o júbilo, mas as coisas correm de outra maneira quando, uma vez que esta forma lhe foi dada, ele reencontra a realidade do mestre... Quando se encontra em presença desta totalidade sob a forma do corpo materno, ele deve constatar que ela não lhe obedece. Quando a estrutura especular reflexa do estádio do espelho entra em jogo, a onipotência materna só é refletida, então, em posição clara¬mente depressiva, e aí surge o sentimento de impotência da criança.”
    É neste momento depressivo onde a criança percebe que sua mãe (função materna) não lhe obedece entra em cena a primeira fase do Édipo.
    Ao perceber seu corpo independente da mãe, a criança também percebe a independência da mãe em relação ao seu corpo, sendo a criança dependente da mãe (nas coisas que dizem respeito a sua sobrevivência) a criança passa a desejar ser o falo da mãe em outras palavras, ser objeto de desejo da mãe procurando atender as demandas da mãe (Outro).
    Nasio (1997) afirma: ”O eu reduz-se ao narcisismo: não é assemelhável, de maneira alguma, a um sujeito do conhecimento no contexto do sistema "percepção-consciência". O eu não é outra coisa senão a captação imaginá¬ria que caracteriza o narcisismo.”e completa “Narcisismo e agressividade constituem-se num único tempo, que seria o da formação do eu na imagem do outro.”
O estádio do espelho precipita para a criança a formação do eu, em outros termos, mostra a criança sua imagem situada fora de si de forma prematura em que ela se encontra em um  estado de dependência e de impotência motora, a criança entra em contato com e uma imagem ideal dela mesma, à qual ela jamais conseguirá unir-se.


Bibliografia

ROUDINESCO, E. A. Análise e o Arquivo . Traduço André Telles; Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,. 2006
ROUDINESCO, E.. Jacques Lacan: esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento. São Paulo: Companhia das Letras, 1993
LACAN, J. - Escritos, Campo Freudiano no Brasil, Jorge Zahar Editor, RJ-1998
LACAN, J. – O Seminario 4, Jorge Zahar Editor, RJ-1995
Nasio, J-D. Lições sobre os 7 conceitos cruciais da psicanálise. Rio de Janeiro: zahar. (1993)
 

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