O luto é uma das manifestações do que ele chamou de "perda do objeto". O objeto em questão pode ser um ente querido, mas também pode ser uma ideia, um ideal, um objeto de desejo ou até mesmo uma parte de nós mesmos. O luto é o processo psíquico pelo qual alguém enfrenta a separação ou a ausência desse objeto significativo. É importante destacar que, para Lacan, o luto não está restrito à morte física de alguém, mas pode ocorrer em uma variedade de situações de perda.
Uma das contribuições mais notáveis de Lacan para a compreensão do luto é a ideia de que o luto é um processo complexo de desvinculação do objeto perdido. Ele argumenta que o luto não é simplesmente uma expressão de tristeza, mas uma série de movimentos psíquicos que envolvem a reorganização da relação do sujeito com o objeto perdido. Isso implica um trabalho de luto que ocorre no nível do inconsciente, à medida que o sujeito tenta simbolicamente se desligar do objeto e reorganizar seus investimentos emocionais.
Lacan também enfatiza a importância da linguagem e do simbólico no processo de luto. Para ele, o luto envolve a transformação do objeto perdido em um significante, ou seja, em palavras e símbolos que podem ser integrados ao universo simbólico do sujeito. Isso permite que o sujeito continue a se relacionar com o objeto de maneira simbólica, mesmo que ele não esteja mais presente de forma concreta.
Além disso, Lacan destaca a função do "luto narcísico" no processo de luto. Esse conceito se refere à perda do próprio eu como um objeto de investimento libidinal. Quando um objeto significativo é perdido, parte do amor e da libido que estavam investidos nesse objeto são redirecionados para o próprio eu, resultando em uma transformação da identidade do sujeito. O luto narcísico é, portanto, uma parte importante do trabalho de luto.
O luto é um processo psíquico complexo que envolve a desvinculação do objeto perdido, a transformação desse objeto em significante, a reorganização do investimento libidinal e a reconfiguração da identidade do sujeito. Sua abordagem única acrescenta uma camada de compreensão à experiência de luto, destacando a importância da linguagem, do simbólico e do narcisismo na forma como os indivíduos lidam com a perda e o sofrimento.