No campo da psicanálise lacaniana, o conceito de "Outro" ocupa um lugar fundamental, representando um enigma que jamais pode ser totalmente desvendado. Ao abordarmos o Outro em Lacan, nos referimos àquela instância que simboliza não apenas a alteridade, mas também a fonte do desejo do sujeito, algo que se projeta para além daquilo que podemos controlar ou compreender completamente.
Para Lacan, o Outro é muito mais do que uma simples representação do “outro” com quem nos relacionamos. Ele encarna o espaço simbólico que contém as normas, os ideais e os valores que moldam a subjetividade humana. Desde a infância, o indivíduo é confrontado com essa dimensão do Outro através da linguagem e das relações interpessoais, que dão forma à sua identidade, mas que também o posicionam em relação ao que ele nunca poderá compreender plenamente sobre si mesmo ou sobre o desejo alheio.
O desejo, por sua vez, é sempre um movimento em direção ao Outro, ou seja, aquilo que buscamos como fonte de preenchimento e completude. Lacan afirma que o desejo humano é, essencialmente, o desejo do Outro – desejamos ser amados, compreendidos e reconhecidos, mas segundo um ideal que reside fora de nós mesmos. Isso gera uma constante busca de reconhecimento que, paradoxalmente, nunca se satisfaz completamente. O Outro, enquanto fonte do desejo, carrega sempre algo que nos escapa, um "resto" inacessível ao sujeito.
Esse aspecto inacessível do Outro é algo que Lacan coloca como central. A linguagem, ainda que seja o meio pelo qual tentamos apreender e descrever o mundo, sempre falha em capturar o Outro em sua totalidade. Há algo no Outro que permanece indizível, uma parte que escapa ao discurso e à compreensão total. Essa dimensão inefável do Outro nos confronta com a ideia de que o ser humano é, por natureza, incompleto – sempre em falta e sempre buscando algo que está, de certa forma, fora do seu alcance.