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O Desenvolvimento Psicossexual

Escrito por: Arthur Alexander Abrahão

  Este artigo se propõe a tecer algumas considerações sobre desenvolvimento psicossexual na teoria psicanalítica. Para darmos inicio, falaremos sobre a “Libido”.  Freud usou pela primeira vez o termo “Libido” no rascunho de sua correspondência a Filess.  Em 1905, nas primeiras linhas do capítulo “Teoria da Libido” de “Três ensaios sobre sexualidade”, Freud definiu libido como “força quantitativa variavel que poderia servir de medida do processo e das transformações que ocorrem  no campo da excitação”. Já em 1920, ao escrever “Além do princípio do prazer” Freud acrescenta  aspectos ligados ao mito de Eros em sua teoria.  Em 1921 em “Psicologia de grupo e a análise do eu” Freud define novamente o termo “Libido” dando maiores contornos a sua teoria, o autor escreve: “libido é uma expressão extraída da teoria das emoções.” e continua, “Damos este nome à energia considerada como uma magnitude quantitativa, daquelas pulsões que tem a ver com tudo o que pode ser abrangido sob a palavra amor.” Em seguida Freud explica o que deseja significar por amor, mostrando a abrangência da libido na vida psíquica “O núcleo do que queremos significar por amor consiste naturalmente... no amor sexual, com a união sexual como objetivo. Mas não isolamos disso que, em qualquer caso, tem sua parte no nome ‘amor’, por um lado, o amor próprio, e, por outro, o amor pelos pais e pelos filhos, a amizade e o amor pela humanidade em geral, bem como a devoção a objetos concretos e a idéias abstratas.” (Freud, 1921).
    A libido se desenvolve amadurecendo nos indivíduos, mudando seus objetos e objetivos. Freud propõe que as crianças tornam-se perversas polimorfas o que significa terem prazer com uma grande variedade de objetos sem um objetivo final, a saber, o ato sexual.
Freud agrupou o desenvolvimento da libido em cinco fases (etapas) de acordo com sua concentração, a estas fases deu o nome de “Fases do desenvolvimento psicossexual”, vejamos agora quais são essas fases:
    A primeira fase Freud chamou de “Fase Oral “ ocorre nos 18 primeiros meses. É a fase mais primitiva onde a Libido se concentra sobre a primazia da boca. “O primeiro objeto do componente oral do instinto sexual é o seio materno, que satisfaz a necessidade de alimento do bebê” (Freud, 1916)
    Em seguida vem a “Fase Anal”, essa fase vai de dois a três anos, onde a atenção da criança se dirige para o anus e a criança sente prazer em controlar seus esfíncteres.
    A terceira fase é a “Fálica” nesta fase a libido se concentra nos órgãos genitais (pênis e clitóris) sendo essa a fase mais parecida com a última fase e ocorre entre três e cinco anos.
    A quarta fase Freud chamou de “Latência” onde ocorre uma pausa na evolução da sexualidade, a criança entre 6 a 12 anos está mais voltada para os objetos externos.
    A quinta fase é a fase genital onde finalmente a libido se organiza sobre a primazia do órgão genital do indivíduo, ela está presente a partir dos 12 anos em diante.
    Para explicar o desenvolvimento da libido Freud usou a analogia de povos que migram de uma região a outra, “Conforme tantas vezes aconteceu nos períodos iniciais da história do homem, um povo inteiro abandonou seu local de morada e procurou um novo, podemos ter a certeza de que nem todos os indivíduos desse povo chegaram à nova localidade. Afora outras perdas, deve ter acontecido, regularmente, que pequenos grupos ou bandos de migrantes pararam no caminho e se fixaram nesses locais de parada, enquanto o grosso da massa prosseguia adiante... no caso de cada uma das tendências sexuais, considero possível que algumas partes das mesmas tenham ficado para trás, em estádios anteriores de seu desenvolvimento, embora outras partes possam ter atingido o objeto final.” (Freud, 1916)
    Aos destacamentos da libido que ficaram fixados em estádios anteriores Freud chamou de fixação “Permitam-me ainda esclarecer que nos propomos descrever o retardamento de uma tendência parcial num estádio anterior como sendo uma fixação — isto é, uma fixação do instinto. (Freud, 1916)
    Para Freud a fixação depende da viscosidade e capacidade de aderência da libido “A tenacidade com que a libido adere a determinadas tendências e objetos o que se pode descrever como "adesividade' da libido  surge como fator independente, variando de indivíduo para indivíduo, e suas causas nos são praticamente desconhecidas; contudo, sua importância na etiologia das neuroses certamente não mais subestimaremos “(Freud,1916)
    Em “Além do princípio do prazer” Freud atribuía a fixação de alguns destacamentos da libido ao trauma, para o autor o trauma impede as elaborações; a excitação não se liquida, o que provoca uma supervalorização do acontecimento. A libido ficaria então presa, fixada pelo trauma mantendo um modo de funcionar que busca excessivamente a repetição da cena traumática.
    Freud também nos da pistas de uma outra forma de alguns dos destacamentos da libido se fixarem no modo descrito por em uma carta a Fliess datada de 1897.
    Freud afirma que no corpo da criança ao ser estimulada pelos cuidados maternos vão se destacando “zonas” cujo o destino será de proporcionar prazer, a partir de então “estas “zonas” serão capazes de gerar um quantum de excitação tendendo à repetição da experiência prazerosa, o que levará o sujeito a buscá-la em objetos substitutivos. Disto se conclui que a fixação se produz pela matriz ou marca deixada pela primitiva experiência de satisfação com a mãe. Aqui, a tendência à repetição é uma ação diferida não neurótica da qual surge a compulsão, que vem a ser, portanto, tributária da libido, de Eros.” (Kury, 1988)
    Podemos imaginar como sugere Freud em sua analogia dos migrantes que parte do povo foi se fixando em lugares habitáveis onde se podia sobreviver sem muito esforço e gozar de certos prazeres, no caso da libido parte dela vai se fixando em lugares capazes de dar algum gozo.
    Freud afirma que “Um desenvolvimento imperfeito da libido deixa atrás de si fixações libidinais muito férteis e, talvez, também, muito numerosas, em fases precoces da organização e da busca de objetos, as quais, em sua maior parte, são incapazes de prover satisfação real; e, com isso, os senhores poderão reconhecer na fixação libidinal o segundo poderoso fator que, juntamente com a frustração, é causa de doença.” (Freud, 1916)     
    Freud (1915) chama de “segundo perigo do desenvolvimento da libido” a “Regressão”, a regressão consiste em um retorno a um estádio psiquicossexual previamente superado. A regressão ocorre quando o indivíduo se depara com obstáculos externos no qual se vê incapaz de transpor.
Em sua analogia sobre os migrantes Freud compara a regressão com o grupo que está na frente  ao se deparar com algo impossível naquele momento de ser transposto retorna para o acampamento fixado mas atrás.  Dessa forma Freud ainda admite que “Quanto mais intensas as fixações em seu rumo ao desenvolvimento mais prontamente a função fugira as dificuldades externas, regressando as fixações” (Freud, 1916)
Freud ainda nos indica dois tipos de regressão, o primeiro tipo consiste em “ um retorno aos objetos que inicialmente foram catexizados pela libido, os quais, conforme sabemos, são de natureza incestuosa!”, ao segundo tipo Freud nos fala sobre “um retorno da organização sexual como um todo a estádios anteriores”
    Freud mostrou que a criança em seus primeiros anos de vida é “perversa polimorfa”, conforme a criança vai se desenvolvendo Freud percebeu que a libido vai sendo progressivamente canalizada criando “zonas erógenas” em seu trajeto pelas cinco fases do “Desenvolvimento Psicossexual” (Oral, Anal, Fálica, Latência e genital)
O processo de desenvolvimento da libido se dá em concomitância a socialização e a demanda expressa verbalmente pelas figuras paternas do indivíduo. “O corpo da criança é subordinado de forma progressiva a essas demandas, as partes diferentes do corpo tomam sentidos determinados pela sociedade e pelas figuras paternas.” ( Flink, 1998).
Aos poucos o corpo desconhecido para a criança, vai sendo descoberto e reescrito pela linguagem, a fisiologia (animal) vai dando espaço ao significante (representações), possibilitando assim a fixação da libido em diversos momentos de seu trajeto.

Bibliografia

FREUD, S. Três ensaios sobre sexualidade (1905), In: Obras Completas de Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996
_________. Conferência XXI (1916), In: Obras Completas de Freud, vol. XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1996
_________. Conferência XXII (1916), In: Obras Completas de Freud, vol. XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1996
_________. Para além do princípio do prazer (1920), In: Obras Completas de Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996
_________. Psicologia de grupo e a análise do eu (1921), In: Obras Completas de Freud, vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996
KURY, Jorge. Desenvolvimentos em psicopatologia psicanalítica. Campinas SP: Ed. Papirus, 1988
FINK, Bruce. O Sujeito lacaniano. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1998

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© 2024 por Arthur Alexander Abrahão

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