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A Pré-Psicose

Escrito por: Arthur Alexander Abrahão 

Primeiramente é preciso lembrar que o termo pré-psicose não é de Lacan, mas vem dele a sugestão "Antes de nos perguntarmos como é a entrada e de fazer a história da Pre-psychotic Phase, antes de tomar as coisas no sentido da gênese, como sempre se faz, o que é fonte de confusões inexplicáveis [...]" (LACAN, 1985) convém tomar novamente em consideração a construção do delírio na forma em que Freud propôs. Sua construção mostra que os fenômenos da psicose podem ser explicados se forem dados a eles as modificações de "elementos de um sistema construído em função das coordenadas da linguagem". (LACAN, 1985).


     Lacan nos convida a olhar a psicose sob o efeito do significante na experiência humana, a relação do sujeito com a linguagem. "O que é o inicio de uma psicose? - pergunta-se Lacan - Uma psicose tem, como uma neurose, uma pré-história? Existe, ou não, uma psicose infantil?" (LACAN, 1985).

     Ao laçar seu olhar para o  desenvolvimento do caso Schereber Lacan conclui que tudo leva a presumir a não existência de pré-história na psicose. Uma vez que, no surgimento de uma psicose, em determinadas condições, o aparecimento de qualquer elemento no mundo exterior que por sua vez não tenha sido primitivamente simbolizado faz com que o sujeito se encontre incapaz de operar a partir do surgimento de uma denegação, Lacan diz em seu III Seminário  "O que então se produz tem caráter de ser absolutamente excluído do compromisso simbolizante da neurose, e se traduz em um outro registro, com uma verdadeira reação em cadeia do imaginário, isto é, na contra diagonal do nosso pequeno quadrado mágico".(LACAN, 1985). O sujeito sem recursos para operar alguma mediação simbólica na relação com a realidade (chamado por Freud de realidade psíquica), acaba por operar de outra maneira, substituindo a mediação simbólica "um formigamento, uma proliferação imaginária nas quais se introduz, de um modo deformado e profundamente a-simbólico, o sinal central de uma mediação possível"(LACAN, 1985).

    Este momento do qual o simbólico falha deixando o sujeito à deriva Lacan chamou de “crise”, momento distinto do qual a elaboração imaginaria que pode levar a estabilização dos sintomas psicóticos.
    Assim Lacan em 1955 nomeia de  pré-psicose não o período em que a psicose se desenvolve no sujeito como alguns acreditavam e sim como o período antes da “crise” (desencadeamento psicótico), no qual o sujeito aparenta uma vida neurótica.
    A Pré Psicose não é uma estrutura, é um estado que como dito antes antecede o desencadeamento da Psicose o que coloca a Pré Psicose dentro a estrutura Psicótica, uma condição que esteve sempre ali, e como sabemos se dá pela foraclusão do
Nome-do-Pai. Diante desta constatação surgem as questões quais arranjos, que recursos são utilizados, para compensar a falha simbólica?
    Observamos que este momento anterior ao desencadeamento da Psicose, é o momento do qual o sujeito vai buscar a compensação para a despossessão primitiva do significante em uma série de identificações com personagens que lhe darão a noção do que fazer para ser um homem. Estas identificações iram atuar como bengalas imaginárias, possibilitando que certos psicóticos vivam algum  tempo compensados.  Lacan dá o exemplo de um banquinho de três pés para ilustrar este momento pré-psicótico em que o sujeito se sustenta no apoio imaginário.
    “Nem todos os tamboretes têm quatro pés. Há aqueles que ficam em pé com três. Contudo, não há como pensar que venha faltar mais um só senão a coisa vai mal. Pois bem, saibam que os pontos de apoio significantes que sustentam o mundinho dos homenzinhos solitários da multidão moderna são em número muito reduzido. É possível que de saída não haja no tamborete pés suficientes, mas que ele fique firme assim mesmo até certo momento, quando o sujeito em certa encruzilhada de sua história biográfica, é confrontado com este defeito que existe desde sempre. Para designá-lo,
contentamo-nos até o presente com o termo verwerfung.” (LACAN, 1985)

     Diagnostico   

    Lacan ao examinar a estrutura do delírio, observa que o estatuto da certeza que se gera aí é elemento distinto da crença neurótica o que faz Lacan a colocar o dito como o elemento diferencial da psicose. Isso não torna diferente a importância que o sujeito tem com a dupla significante-significado, tanto na psicose como na neurose.
    Lacan nos mostra que na psicose, o significante não esta localizado no Outro e, como conseqüência, não se encarna em outro sujeito. A ação do significante não comporta identificações, mas se faz no real. O problema do psicótico é o significante não representativo, o significante como aquele que age, antes de tudo, fora da significação e, por isso, também da representação do sujeito.
    Assim se faz possível constatar que a observação da forma como o sujeito se relaciona com o significante é de suma importância para se estabelecer um diagnostico precoce, uma vez que diferente do neurótico onde o significante pode assumir vários significados, no psicótico o significante significa ele mesmo, a ausência de metáfora e metonímia .
    Outra observação é a de que na falta de referência simbólica o sujeito se encontra capturado no plano imaginário, onde a relação dual e desmedida com o outro.

 


Bibliografia

LACAN, Jacques. O Seminário Livro 3 - As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. # Psicanálise  

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© 2024 por Arthur Alexander Abrahão

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